Cãopanheira

A ideia de ter um cão às vezes não passa disso...uma ideia, uma vontade, desejo, etc!
Conforme as experiências e os relatos ouvidos, os preconceitos podem ser a favor ou contra. Estão implícitos vários factores, é verdade. Tamanho da casa, possibilidades económicas, as horas que se passa a trabalhar, o lazer... Tem que se estar disposto a abdicar de algumas coisas. Abdicar não é necessariamente negativo, mas deve ser algo natural e com sentido. Há que haver gestão de tempo para os passeios e para o treino, bem como gestão do dinheiro para a alimentação e cuidados de saúde. Também se podem perder algumas horas de sono, pois quando são pequeninos não dormem bem de noite, ou não nos deixam dormir! Temos de acordar cedinho para os levar à rua; o controlo de esfíncteres demora tempo a maturar. Ou podemos ter de sair numa noite fria e chuvosa para satisfazer a suas necessidades fisiológicas.
Como TUDO na vida, existem aspectos menos positivos ou mesmo negativos, mas nada que a vontade e o carinho não compensem!

Defendo realmente que ter um cãopanheiro nos acrescenta alegria à vida, traz sentido ao nosso propósito de cuidar. 
Ainda que se opte por ter uma vida solitária, não há quem não precise de um elemento sobre o qual ter e manifestar preocupação. Penso que faz parte do ser-se Homem.

Desde pequenina que sempre tive animais, de diferentes espécies. Agradeço à minha mãe ter aceite cada animal lá em casa, e ter gasto tempo e dinheiro para cuidar deles. Nem sempre foi fácil, mas nunca desistimos.
Ainda assim, nem tudo é cor-de-rosa. Esta partilha não serve para convencer quem me lê a ter um cãopanheiro. De facto há que analisar e ponderar. Ainda que existam possibilidades económicas, tempo livre, espaço em casa e amor para dar, há que ser consciente da capacidade de abdicar, ou não, dos aspectos que nos trazem conforto. E ninguém se deve sentir mal de disser NÃO. A honestidade é sempre melhor. É sempre melhor admitir uma incapacidade a ter animais mal-tratados, quer física ou emocionalmente.
A Suri, a minha cãopanheira, veio parar às nossas vidas em Junho de 2015. Queriamos muito ter um cão, para mim novamente! Não tinha pedido um Labrador, muito menos claro e fêmea. Mas um amigo nosso fez criação e ofereceu-nos!
Veio com um mês e meio para nossa casa, e a primeira noite foi terrível. Ninguém pregou olho e no dia seguinte fomos trabalhar, cheios de sono e com muitos xixis para limpar!
Mas com muuuuuuiiiitaaaa paciência, dedicação, AMOR e certeza de que queremos ter uma cãopanhia, tudo se compôs. 
Inicialmente, e na minha opinião porque cada um tem a sua experiência, temos de nos adaptar às necessidades do animal. Por exemplo temos brincar quando lhe apetece, dar comida quando tem fome, perceber se tem vontade de fazer xixi e cocó e levá-lo à rua de imediato... Não foi fácil, mas estamos vivos! Sobrevivemos a: acordar às seis horas da madrugada nos dias de folga, correr rua acima e rua abaixo de chinelo no pé em busca do cão perdido, limpar vomitado enquanto estávamos a deliciar-nos com um belo jantar, trabalhar 12 horas seguidas e ter outro turno em casa a apanhar o lixo da reciclagem espalhado pela cozinha... Faria tudo outra vez!

Nunca, nunca mais me senti sozinha em casa. Nunca mais dormi sozinha nas noites em que o J. trabalha, e por conseguinte nunca mais acordei sozinha! Também nunca mais tomei banho sozinha, nem estive concentrada no WC... Nunca mais deitei restos de comida no lixo. Nunca mais vi um filme sozinha. Nunca mais falei sozinha ou com as paredes... Nunca mais tive os pés gelados. 
Fiz muitas amizades, conheci muitos intermediários que me ajudaram a resolver assuntos difíceis, e ajudei outros tantos... Impressionei-me muitas vezes, iludi-me e desiludi-me com pessoas.
Fiquei mais tolerante, calma e compreensiva. Fiquei mais tranquila com pormenores "mesquinhos", porque a vida continua o seu rumo de qualquer forma.
Dou e recebo, sem requisitar uma troca ou justificação. Rio-me mais. Também me preocupo mais. Vivo mais, passeio mais. Faço o que não me apetece, porque a vida é mesmo assim!!!!

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